Lillium e a Virada da Ampulheta - Capítulo 5: Assuntos Delicados



Capítulo 5 - Assuntos Delicados

Cumprindo seu caminho a passos curtos e afobados, Câncer adentrava pelas ruas da Cidade dos Deuses que, mesmo tão tarde da noite permanecia iluminada pelos postes e janelas dos apartamentos nos grandes edifícios. Ela esperava, não, ela precisava encontrar algum dos quatro deuses que aparentavam estar contra do domínio do Tempo.  Deuses menores e outras formas de criaturas preenchiam a rua em frente a uma boate, dividindo momentos de socialização durante a espera na fila.

Voando em suas sandálias acima da multidão e parecendo discutir fofocas avidamente estavam os Deuses Gêmeos, a menor abriu um sorriso amarelo, não era bem eles quem ela queria encontrar num momento como esse. Disfarçadamente, Câncer começou a atravessar a maré de divindades sem ser percebida e colocando a mão sobre a testa como uma viseira, impossibilitando de verem seu rosto.

- Mas foi então, que aquela piranha de Inês descobriu que o Toninho estava traindo-a com a prima própria prima. – Aki sibilou como uma serpente para seu irmão, que levantou uma mão e balançou a cabeça deixando seus cabelos brancos arrepiados ainda mais altos.

- Eu sempre soube que o Toninho não prestava, mas ninguém escutava a gente né. – Ikki respondeu enquanto mascava uma goma, enquanto fofocavam disparando veneno em suas redes sociais a Nereida continuava seu caminho, agora, estava exatamente em abaixo dos dois fazendo seu coração palpitar em nervosismo.

- Não fica só nisso, você tem noção de quantas vezes... – A fala de Aki é interrompida de forma súbita, seu irmão ergueu uma sobrancelha quase cacarejando para que continuasse, o Deus de pele de grafite levantou o dedo subitamente em frente ao nariz do de pele branca e então, apontou lentamente para Câncer, que tinha finalmente atravessado toda aquela confusão e continuava a andar rapidamente.

A troca de olhares entre os irmãos foi como telepatia, ambos guardaram seus aparelhos celulares nas roupas e voaram silenciosamente atrás da Nereida, ambos já desconfiavam que ela tinha ficado muito quieta durante a reunião e isso era motivo de manterem suas orelhas bem alertas e os olhos vigilantes. Não que se importassem diretamente com o Tempo, mas fazia parte da diversão causar um pouco mais de caos.

As barbatanas das orelhas de Câncer tremularam como receptoras, era sinal que estava sendo seguida. Engolindo em seco e aumentando o passo quase a correr, deveria ou não olhar para trás? Ela já teve experiências com tarados grotescos, mas sua missão fez com que isso fosse a ultima coisa que passasse por sua cabeça, ela respirou fundo num lampejo de coragem e parou subitamente virando para trás, dando de cara com os Gêmeos que, sem perceber que ela tinha parado, bateram o peito duramente contra o rosto da menor que caiu sentada saindo de sua boca um som que parecia um brinquedo de borracha sendo apertado.

- Puta que pariu Aki, olha o que você fez! – Grasnou Ikki enquanto pousava, o irmão resmungou balançando as mãos.

- A culpa não é minha que ela não olha antes de virar. – Respondeu o escuro pegando a mão da Deusa, que tinha a testa franzida e a boca formando um bico irritada. Os irmãos se olharam erguendo as sobrancelhas logo olhando para ela sorrindo sem graça em conjunto, Câncer suspirou. 

- Vocês... Querem alguma coisa? – Ela disse arrumando as roupas e tirando a poeira da traseira, os gêmeos se entreolharam e deram um sorriso dentado.

- Não pudemos deixar de reparar que parecia afobada, está fugindo de alguma coisa? – O branco perguntou levando a mão nas costas de Câncer, direcionando-a delicadamente para onde ele e seu irmão queriam. A menor, olhava envolta freneticamente, não podia fugir ou dar nenhuma desculpa, seria muito suspeito.

Passaram os três pelas ruas movimentadas para o grande Templo que ficava no centro de Epipléon, o nome da Cidade dos Deuses, era clássico contrastante ao mar tecnológico que era o resto da cidade. Era enorme visto de longe, visto de perto era colossal, ele era o lugar onde se guardava para adoração, a estatua de cada uma das divindades de Lillium. O jardim belíssimo dedicado a Magia se mantinha verde até mesmo no inverno, e as águas dos estreitos riachos que corriam entre os arbustos nunca congelavam ou secavam. Câncer e os Gêmeos subiam as escadas de mármore negro, a entrada era aberta tendo apenas grandes pilastras entalhadas com desenhos, contando histórias dos deuses e heróis ao longo da história.

- Sempre belíssimo, o mais simples que podiam fazer também por nós. – Vangloriou-se o Gêmeo de pele escura, a iluminação azulada do Templo era mantida por tochas e candelabros espalhados por toda a quadra principal, o chão refletia tudo que se aproximasse, como um espelho, e no exato centro uma queda d'água ia direto para um lago artificial de flores e peixes coloridos. A Nereida levantou o olhar, lá estavam todos, em lugares, poses e cores diferentes para cada divindade.

- Por que me trouxeram aqui? – Perguntou ela para os Gêmeos, mas não teve resposta , que olhavam a maior das estátuas, o Céu e a Magia sentados um em frente ao outro se olhando de forma intensa até mesmo para pedra esculpida. A azulada piscou em análise, o Céu era um homem de belos traços, cabelos longos presos em várias tranças e uma barba bem feita. A Magia superava qualquer tipo de imaginação, tanto rosto quando corpo belíssimos e os longos cabelos esvoaçantes pareciam, mesmo em pedra, estar fluindo livremente. A Deusa da quarta constelação ouviu muito sobre os dois Primordiais, que não eram apenas os dois, ao lado deles estava em pé empunhando uma foice curta de colheita em mãos o Deus da Natureza e Profecias, Physis seu nome, o rosto longo e de traços finos em meio a chuva de cachos que eram seus cabelos, o corpo esguio tinha apenas suas intimidades cobertas, a estátua estava repleta de trepadeiras e flores que cresciam devido a energia de cada divindade estar presente em cada uma das esculturas.

- Meninos, vocês têm alguma notícia do paradeiro do Physis? – Câncer perguntou com a mão no rosto sem tirar os olhos da estátua enorme em sua frente, os irmãos que olhavam o lago levantaram os olhos para ela.

- Não exatamente não é Aki? Talvez tenha se desfeito com a acidez da personalidade dele. – Ikki disse olhando para o irmão, que assentiu sorrindo.

- Ele e o Vunos não são vistos desde que o Tempo tomou Ouránios – Aki apontou para a estátua do lado oposto da de Physis, um homem de meia idade de corpo e expressão fortes mas ao mesmo tempo calorosas, o Deus das Montanhas e da Terra, um dos Primordiais e o que construiu toda a Epipléon e a Torre dos Deuses, Ouránios.

- Não me surpreende vindo daquele nojento. – Câncer cuspiu franzindo a testa, os irmãos sorrindo abrindo a boca em formato de "O" com as palavras da Deusa que sempre foi tão compassiva, ela sorriu com a mão na boca sem arrependimentos de suas palavras.

- Eu tenho suspeitas que ele esteja preso ou congelado sabe? O Physis, ele não pode simplesmente ser apagado, seria muito problema para o nosso mundo, não acha Câncer? – Ikki perguntou para a Nereida, que franziu o cenho processando a pergunta do de pele branca, foi um palpite direto demais pra ela.

Ao olhar pro lado de fora do Templo, Câncer se tocou, ela estava perdendo tempo ali e isso era a intenção dos irmãos, ela respirou fundo e apertou a capa contra o corpo. – Foi muito interessante ver os nossos colegas mas eu tenho que ir, passar bem. -  Disse rapidamente, quase impossível de se compreender, sem rodeios ela disparou em passos rápidos entre as estátuas. Os Gêmeos se entreolharam sem dizer uma palavra, não iriam segurar ela, daria muito trabalho.

- Não sou tão idiota como pensam. – Resmungou a Nereida enquanto desviava de possíveis mãos e lanças das esculturas que pudesse bater com a cabeça; em seu bolso o celular vibrou com uma mensagem, quem mandaria uma mensagem uma hora dessas? Sem parar de andar adentrando no jardim ela tirou o aparelho do bolso vendo a notificação do Correio de Mensagens.

"GrandeBriófita te mandou uma mensagem"

"Estou te esperando no café, não o que sempre estou, no outro de paredes vermelhas horríveis, o pessoal do que eu vou ainda tem medo de levar um soco igual semana passada por que cuspiram no nosso lanche."

- Eu ainda sou a única nesse lugar que não fez nada digno de prisão... – Disse pra si mesma pulando a cerca do jardim facilmente indo para a rua, o café que estava mencionado na mensagem era fácil de achar e era muito movimentado, então dificilmente reparavam no fluxo de quem entrava e saia de lá.

Passando por uma, duas, três ruas até chegar no destino, suspirando em alívio e Deusa parou em frente ao café, era vermelho e verde intenso com cadeiras na frente, não estava tão movimentado, o que facilitou a visão pra quem ela estava procurando.

Com um lenço vermelho na cabeça e jornal em mãos, a Virgem estava sentada em uma das cadeiras mais afastadas, Câncer deslizou até ela e logo sentiu o cheiro de álcool e fumo, apesar de ser a representação da Vida ela era bem acostumada a usar esses vícios que são maléficos para os mortais.

- Virgem? – Cutucou o ombro da Pauddha, levantando rapidamente os olhos verdes intensos para a Deusa da quarta constelação e fazendo sinal para que falasse mais baixo, Virgem respondeu:

- Sou apenas uma camponesa. – Avisou posicionando melhor o xale sobre a cabeça e deixando um sorriso fino escapar, mostrando os dentes afiados típicos da espécie, essenciais para rasgar carne direto dos ossos. Câncer segurou o riso e se sentou em frente a colega olhando para os lados atentamente.

- Foi um alívio receber uma mensagem sua num momento como esse, eu precisava ver alguém de confiança. – Câncer se aproximou cochichando pra Virgem, erguendo as sobrancelhas em resposta.

- Eu sei, não mandaria uma mensagem daquelas por questões frívolas. – Respondeu diretamente dando uma tragada no cigarro a Pauddha. – Eu vi que você estava extremamente desconfortável na reunião e já esperava que faria algo sobre isso, você é uma das que mais tem contato com... Ele. – Finalizando a frase com a típica expressão de lábio retorcido e liberando toda a fumaça pelas narinas, a azulada assentiu enquanto abanava para longe de seu rosto a nuvem de nicotina.

- Trouxe isso para que usassem na busca do nosso futuro, se eu não tivesse me mantido atenta teria me perdido em meio as distrações dos Gêmeos. – Tirando da bolsa o invólucro de papel, dentro brilhada aos tilintes a Bússola que a Sacerdotisa havia feito, Virgem logo pegou para si olhando em análise, ergue uma sobrancelha e direcionou o olhar para Câncer.

- E isso funciona mesmo? – Sorriu a dama, quase rindo.

- Claro que funciona! – A forma como a outra Deusa se direcionou a Sacerdotisa a deixou levemente irritada, mas já esperava que fosse ser questionada pelo seu trabalho, ainda mais por alguém que tão crítica quanto a Virgem. – Ela vai mostrar para vocês aonde está o Profeta, ou a Profeta, podem confiar em mim. – Completou a menor colocando a mão sobre o peito vasto.

- Certo, certo, eu agradeço pelo seu esforço, vamos fazer bom uso disso. – Virgem deu dois leves toques no ombro de Câncer enquanto se levantava, o coração da Sacerdotisa que estava para saltar pela boca antes de encontrar a Deusa da Vida se mantinha calmo e rítmico novamente. 

- Façam aquele escroto beber do próprio veneno. – A menor rosnou, Virgem levantou o olhar sorrindo em surpresa.

- Com certeza vamos. – Acenou a Vida, saindo em meio as pessoas que chegavam ao café, Câncer tinha feito seu trabalho, e dava início a uma jornada desgastante.

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A roda de cinco membros de olhava de forma tensa, cinco contando Hasret, mas logo toda a tensão foi quebrada com u baque na mesa feito pelo Mágico, Escorpião levantou as orelhas para o pai, ela já estava acostumada com as mudanças súbitas de humor dele.

- Como vocês já devem saber, ou espero que saibam. Estamos a cada dia com menos tempo de Sol e a magia das coisas mais fraca – O Mágico levantou a mão fazendo uma pequena explosão roxa brilhante sair da palma.

- E tudo isso por mais de um motivo, não é apenas pelo Tempo estar no comando de tudo e não termos notícias dos outros deuses. -  Disse Merlin alisando a barba preguiçosamente.

- O que vocês querem dizer com isso? – Gael perguntou indo pra sua altura humana sentando-se no braço de uma poltrona, o Mágico levantou um dedo abrindo a boca o máximo possível puxando o ar, ele sempre fazia isso antes de falar por minutos a fio, mas Escorpião, colocando a mão sobre o ombro do pai o fez tomar a atenção para ela.

- Pode falar com calma e de uma forma que todos entendam, pai. – Ela disse sorrindo, o de cabelos brancos assentiu colocando a mão sobre a dela delicadamente.

- Alguns sinais já estão gritantes desde o início disso tudo, algumas coisas estão saindo da ordem natural e perdendo seu sentido. Já faz um bom tempo desde que buscamos explicação, mas não temos respostas concretas, apenas... Suposições. - O Mágico inalizou a frase com forte tom de dúvida, Gael engoliu em seco suspirando.

- Tudo está ligado ao Tempo, sem excessão, as tentativas dele de subir cada vez mais estão trazendo e feitos colaterais pro nosso mundo que podem ser até irreversíveis. - Todos mantinham os olhos direcionados ao Deus da Bondade. - E eu tenho certeza, e sinto isso, que ele está tendo contato com aquele monstro preso no Vazio... 

Todos se entreolharam, a expressão de espanto era evidente no grupo, Gael havia mencionado o Caos. Um ser de existência tão antiga quanto a dos deuses primordiais que não tinha outra função além de causar Destruição e Discórdia, o motivo da Grande Guerra dos Deuses séculos atrás.

-Se ele realmente estiver falando com aquela coisa, não será apenas ele o nosso problema, mas as criações dele também. - Murat rangeu os dentes, apesar de ser um humano, era tão velho quanto algumas estrelas, e sabia que todos em Lillium não mencionavam o nome do Caos por motivos de segurança, você atrai o que chama como dizem os mais experientes sábios da floresta.

- Trazer aquele monstro de volta para o nosso mundo é buscar total destruição, e não só ele, como meu pai disse. – Escorpião tomou fôlego em meio as memórias. – Aquelas coisas que saíram dele e tivemos que lutar não eram fracas, deram trabalho até mesmo para os deuses maiores. 

- Vocês têm certeza que o Profeta nasceu? – Perguntou Merlin enquanto flutuava sentado para Escorpião, que negou em resposta.

- Só nos resta procurar, e acreditar que ele já esteja entre nós. Estamos eu, Aquário, Áries e a Virgem na linha de frente, e o Leão nas entrelinhas – Ela disse chicoteando a cauda olhando para Gael de forma desconfiada e fuzilante, o que entristeceu o Deus mais do que o deixou desconfortável. Esperava algum retorno da amiga que havia saído para Epipléon atrás da Sacerdotisa, mas até agora nada, e Virgem não costumava errar horários ou compromissos. – Eu já vou indo pai. O seu genro deve estar chorando agora por que eu estou demorando demais.

- Devia se afogar em lágrimas, não ia fazer falta.  - Brincou Murat com sua típica forma passiva agressiva dando de ombros, Escorpião deu um leve riso. -  E os meus netos? Como estão? - Perrguntou ele entusiasmado.

- Estão perfeitamente bem, cada dia mais parecidos fisicamente com o pai. - Explicou a deusa levantando as mãos em deboche ao marido. - Mas a inteligência ainda bem veio toda de mim. - Suas últimas falas fizeram o mágico rir em prazer.

- Me deixa mais tranquilo ouvir isso. - Avisou Murat sorrindo radiante.

Escorpião assentiu pegando as mãos dele indo até a porta de saída. - Nos veremos novamente depois, todos em família, mas agora devo partir.

O Mágico olhou a filha tristemente. – Mas já? – Perguntou, a Morte deu um beijo na testa dele que sorriu mudando sua expressão para uma mais feliz. 

- Tente falar com a mamãe, ela deve estar precisando desabafar... – A deusa da oitava constelação disse, Murat assentiu abrindo a porta para ela. – Eu vou ver se a Virgem já voltou com alguma notícia útil. – E se foi pela porta numa nuvem negra se movimentando como um fio de água perdendo-se na floresta. 



P.S - Gruti n é camponesa, Gruti é bruxa, queimem a bruxa >:} -Fluffy

P.S - Não tem nada mais lindo que uma Mera selvagem - Loida

 

 

Comentários

  1. Olha o Corona na fila da boate hein >:C
    Mah que fofoqueiros >->
    Noooo atropelaram a Câncerzinha
    Esse capítulo foi puro meme auhsushsuh

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    1. LKKKKKKKKKK qm dera metade desses ai pudessem morrer de coronga (・`ω´・)
      Ikki:É né fofa, tem q se manter antenado
      Câncer: Não tem problemaa (^_^;)
      LKKKK vdd

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  2. Aki e Ikki conversando parece personagem de novela da Globo akska
    Tadinha da Câncer, caiu igual uma pelucinha ;u;
    Me pergunto como seria a visão de estar num lugar completamente branco por causa da neve e, de repente, você encontra o verde do jardim da Magia. Com certeza seria muito mágico, literalmente akska
    "Não fuma cigarro, Virgem, faz mal pro pulmão!"
    Eu fiquei quietinha por alguns minutos tentando digerir a conversa da Virgem com a Câncer, talvez tenha coisas que esqueci dos capítulos anteriores hmm
    Esse último diálogo me fez imaginar coisas muito lokas, tipos no filme do Doutor Estranho, ou seja, é assustador .n.
    ~~ESTAREI AO AGUARDO!

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    1. Ikki: Isso foi um elogio?
      Sii, kiuti (◕‿◕✿)
      LKKKKKKKKKKKKKKKKK, d boa, só mostrou os vicios nada saudáveis de gruti nesse capítulo
      YAY ATÉ O PRÓXIMO CAPÍTULO ♡^▽^♡

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